Saturday, December 17, 2011

Histórico

Terminei o ginásio no ano de 1967 no colégio dom vital em Catolé do Rocha, por falta do segundo grau tive que me deslocar para a capital, para dar continuidade aos estudos, na época já tinha uma bagagem teórica com relação à política revolucionária estudantil. Em 1968 comecei a estudar no Liceu Paraibano cursando o 1º ano científico. Nessa época era grande a efervescência política e logo me engajei num movimento de resistência contra a ditadura militar, que oprimia a todos e suprimia os direitos fundamentais do ser humano. Isto me tornou, como a outros, alvo dos órgãos da policia política do sistema. Em todo ano letivo alternava os estudos com a atividade política. 

Em 1969 ingressei na Escola Técnica Federal, no curso de mecânica. A participação nas passeatas, comícios relâmpagos e a proteção que dávamos aos nossos lideres chama a atenção e logo tive de entrar numa semi-clandestinidade, soubemos depois que seriamos presos. Nas férias de julho de 1969, retorno ao sertão e participo de uma caçada escalada na serra de Capim-Açu ás vizinhanças da cidade. Levávamos alguns livros, rádios , revistas que estavam em evidencia na época. Fomos investigados e o delegado local buscando promoção entra em contato com o D.O.P.S. (delegacia de ordem política e social) e prende todo grupo em 22 de outubro de 1969. Selecionados, eu e mais dois companheiros fomos enviados na madrugada do dia seguinte para Patos e de lá agentes do mesmo órgão repressor nos levaram para a D.I.C (delegacia de investigações e capturas) na capital, onde ficamos incomunicáveis durante 15 dias numa cela onde ao lado ladrões e mal feitores capturados eram torturados durante toda a madrugada. Numa dessas noites de intenso terror psicológico, fui retirado da cela para assistir a uma seção de tortura no “pau de arara” de um preso comum, comandada pelo delegado local. Indiretamente demonstrando que mais cedo ou mais tarde se não falássemos seriamos torturados. Da D.I.C. a policia federal nos leva, e depois dos interrogatórios fomos levados para o quartel da policia onde permanecemos durante quatro meses até o julgamento na auditoria militar em Recife onde fomos condenados a um ano de prisão a ser cumprido na penitenciária modelo do estado. Quando lá chegamos, encontramos outros companheiros e estudantes que já estavam condenados, ficamos todos numa cela separada.

Quando fui libertado em 29 de outubro de 1970, voltei para o sertão, não pude mais continuar os estudos em virtude da rede pública estar sendo vigiada e por ser considerado elemento perigoso. Com o apoio da familia e com o temor de ser preso novamente, sabendo das perseguições e desaparecimentos de lideranças estudantis e políticas, e estando sendo constantemente vigiado na minha cidade tive que forçosamente me deslocar para a zona da mata do estado de Pernambuco em 1972, permanecendo até 1981 quando por força dos movimentos populares tive a certeza de um retorno seguro. Em seguida participei ativamente do movimento das “diretas já” e da redemocratização. Fundamos o PT e fui candidato a prefeito juntamente com frei Marcelino “deputado estadual”, constitui familia tendo sete filhos sendo : Victor Cortez Paiva filho de Diva Romeé Maia de Moraes, Ícaro Cortez Costa filho de Benedita Barbosa da Silva e Poti Oliveira Cortez Costa, Mani O. Cortez Costa, Tabira O. Cortez Costa, Aratã O. Cortez Costa e Aruan O. Cortez Costa filhos de Luzia Santina de Oliveira Cortez. 

Sou agricultor, mecânico-eletricista e continuo como disse Jean Paul Sartre “vivendo na esperança” de melhores dias para a nação brasileira e também de dar a meus filhos a consciência política e a formatura que não pude ter e que meu sacrifício sirva de incentivo para que eles nunca passem pelo que eu passei. E que viva sempre no pensamento das gerações presentes e futuras à luta constante e a vigilância pela normalidade do estado de direito.

Ubiratan Cortez Costa
 28/06/2001

Observação: texto encaminhado para a comissão de anistia, processo numero 2001.01.00166.

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